eu-medo





Diz que me ama. Diz que me ama para sempre, que nunca amou assim.


tu: um. lá em cima. no topo. Sei lá porque é que preenches tudo. E guarda-o lembra-te não esqueças.


E eu tremo. Porque acredito e porque temo.


Oh God
now
when's the time for me
When will you see me through

Oh God
my mind is eating
My heart out
Oh God
my heart is beating
my mind up

Oh God
I can't believe in you
just because
I'm afraid you´re true.



Tenho um só coração e dizes que tenho de optar. Que temos sempre de optar. E eu não posso. Não quero. Não sou capaz. Porque quero tudo. Porque não quero viver sem nada do que tenho.

Tenho de te perder?

Quando partirás de novo?

Não tenho medo de te amar. Não tenho medo que me ames. Tenho medo de não chegar, de não dar tudo o que precisas, de que a minha divisão, o meu coração partilhado, te afoguem em solidão. Tenho medo de me esgotar, de te esgotar, de deixar de ter para dar. Tenho medo de te dizer que vás, que vás ser feliz, que vás sem mim.

E não é medo.

É só assim.

Porque sim, porque temos que fazer escolhas.



Eu sei que o que tu mais querias era poder parar. Um útero acolhedor. Uma mão nas costas que te devolvesse as certezas. Um abraço morno onde possas largar o peso a pensar que é para a vida inteira. Ou mais ainda, para a eternidade.

Mas não há paz. Porque a vida flui. Corre. Passa. Muda. Fecham-se portas, janelas, ciclos, olhos. Nunca se agarra nada, não há nada que se possa agarrar. Sei lá porque é que digo isto. Eu acho que tu tens medo que as coisas passem, que te deixem, que desapareçam da tua vista. Que evaporem. Que adormeçam para sempre. Eu acho que odeias não perceber. E tenho a certeza que não queres aceitar, não sabes aceitar essa natureza fluida em que estamos metidos todos. É por isso que corres tu, como líquido - espelho-água- mais depressa do que as coisas que te rodeiam. Corres. Ninguém te pára. Porque se fores mais depressa do que as coisas, nunca perdes. Só percebemos o movimento se estivermos parados. Por isso corres. Tornas-te o teu inverso, o inverso do que desejas, exactamente para sobreviver. Tornamo-nos sempre os nossos medos.





Quero parar, sim. Mas não posso. Não sei. Não me permito.

Vem e faz-te ninho. Por umas horas. Uns dias. Uns meses. A eternidade. Pára-me.

Mas sabes que não fico [sabes?]. Sabes que não posso [ou posso?]. A urgência de não pensar, não sentir... Não ser. Chama mais alto. O rio. O teu rio. O teu riso.

Desliga-me.

Desconecta-me.

Desconexa-me.



Ahhh, o teu riso!...



Fico-te.

Por agora, por umas horas, por uns dias, uma eternidade. Páro-te. Aqui. Em mim. Depois solto-nos [soltar-nos-ei?] porque nunca te chegarei. Não te bastarei. E sorrio, porque nos teus olhos sou feliz e isso basta. A mim. Ao eu-nós.

Choro a ler-te. A ler-me em ti, nas tuas palavras, nos teus olhos. Porque sei que me amas. Porque acredito. Porque te perdi [oh, perdi-te um dia, meu amor!] e te encontrei de novo [e tu vieste! vieste e beijaste-me!] e porque já te sinto a falta e ainda aqui estás. Sinto a tua falta a cada segundo. Estou presa a ti pelo coração, por fios que não vejo, por veias que latejam no fundo da garganta quando penso o teu nome [e não há mais nada, mais nada em que pense] e porque sei que não te basto. Hoje. Sim. Mas não depois. Porque nem a mim me basto.

Aceita. Sem medo. Porque serei sempre tua. Mas esta fome, esta sede, esta força que me empurra... Sou macieira que quer dar pêras. Sou pedra que quer cantar. Sou rio que sonha com os céus abertos e nuvem que queria ser eterna.

Sou tua.

Sempre.

eu = tua



Eu tenho mais medos do que tinha. Tenho sobretudo medo daquilo que é bom demais para ser verdade, do que não me parece possível. Um medo-avião. O medo-dinossauro-voador. Um medo-tecla-de-computador. Um medo-tu.

E depois um medo-maior um medo-medo um medo-a-sério
sabes?


medo-que-ninguém-baste-e-que-não-haja-um-pedaço-de-gente-que-te-alcance


medo-que-caias


medo-que-não-arranjes-maneira


medo-do-teu-medo-maior-que-eu


medo-que-o-coração-se-te-parta-de-vez


medo-que-não-rias-para-sempre


um
medo

o-medo




E como posso eu ter medo também?

Só o medo de perder o quanto me amas tu.


Não mordas o lábio. Eu sou feliz.

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